quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

PREVENÇÃO DOS INCÊNDIOS - A VOZ DAS MULHERES DAQUI

Os incêndios ainda castigavam a Chapada e ao redor do Morro Branco, a imponente pedra vertical que tenho bem defronte de minha casa, quando comecei este texto. A turma que labutava na intenção de apagar as chamas se exauria sem sucesso definitivo. Em um momento parecia que passou, mas no fundo das profundas fendas que caracterizam a região dormitava o fogo. O dia e o sol tomavam o céu e as chamas respondiam, lançando-se ao alto e queimando o que restava do mato ressequido.

Por isso, voltei a tratar do assunto com as mulheres idosas que participam da ginástica na quarta-feira, no posto de saúde aqui do Vale do Capão. Mais uma vez elas me alertaram que antigamente não se preocupavam muito com isso. Pois que o fogo parava na mata. Todos os anos se incendiava os altos ermos. Os vaqueiros se encarregavam de queimar os Gerais no estio, para que, logo após a chuva, pudessem trazer o gado para comer o broto novo. O fogo consumia a vegetação baixa, gramíneas em geral, cujas raízes conservavam a vida apesar do calor. Mas o incêndio não atingia os locais de mata, pois ali a humidade garantia a vegetação. Dalva alertou que naquela época chovia mais e a mata era mais úmida que hoje. O que dava mais segurança.
Porém as outras comentaram que estas queimadas impediam um excesso de baceiro. Assim chamam o mato morto, folhas secas, que se acumula no solo. É esse baceiro úmido que segura a onda do fogo na mata, mas na serra, quanto mais baceiro, mais poderoso é o incêndio e tão forte que pode alcançar as ramas das árvores, queima-las, às vezes, irremediavelmente. Nestes casos a recuperação é demorada e difícil.

Um amigo, Emanoel Requião, me contou que uma floresta nos Estados Unidos que era sumamente preservada, quando pegou fogo acabou. Então perceberam por lá que pequenos incêndios são bem-vindos! Ele usou uma frase tocante: “A Chapada é amiga do fogo”. Comentou que certas sementes carecem do carinho quente para no devido tempo brotar. E isso coincide com o testemunho das nativas que me disseram que depois do fogo, logo com as primeiras chuvas, a macela brota lindamente e a produção é maravilhosa. Segundo elas o candombá (ver post anterior) também brota e flore que é uma beleza. Acrescentam que certas plantas comestíveis só aparecem nos campos depois que há queima, tais como a Maria Gondó e o Cariru de Veado.
No trabalho com as idosas ocorreu-nos que a prevenção possível para estes grandes incêndios é garantir pequenas queimadas com a supervisão e vigilância dos brigadistas, para eliminar o excesso de baceiro. Assim não teremos grandes devastações periódicas.

Penso que em se aceitando esta proposta, haverá que fazer um plantio de espécies nativas ao redor das nascentes com o fito de engrossar a mata ciliar lá em cima, nos Gerais, para que os córregos e rios estejam mais protegidos. Desde que por lá ando tenho o sentimento e, mesmo, a sensação, de que o povo planta que vive bordeando as águas correntes mantêm uma relação tensa com o radiante elemento fogo, coisa que não devemos esquecer.

Ademais, no criar soluções devemos despir-nos de conceitos estanques e definitivos (como: o vaqueiro é o vilão porque põe fogo), sem, contudo, abrir mão da vigilância (como: controlemos e estudemos o real impacto do fogo do vaqueiro, ou, do fogo no roçado). Podemos avaliar que o fogo do vaqueiro ou do roçado a longo prazo vai reduzindo a área de mata ciliar, daí replanta-la.
Já no interior do Vale do Capão há muito baceiro na mata; será que seria bom reduzi-lo? E esta samambaia de canicho, venenosa, que está afogando as árvores? Ela não era tão frequente antes, está aumentando e pega fogo fácil. Será que não é bom reduzir sua presença? Bom, temos muito a pensar e discutir nesta questão da prevenção de incêndios; gostaria apenas que os antigos moradores pudessem também dizer o que pensam.

As mulheres me pediram para fechar esta arenga avisando a todo mundo que o Vale do Capão em si não queimou. Foi doloroso para todos nós ver as serras em chamas e a fumaça poluindo o vale, mas felizmente nenhuma casa foi atingida, e o vale em si, segue verde.

Abraço idoso para todos de Aureo Augusto. 

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