segunda-feira, 20 de abril de 2015

TANGENDO A DOR

Seu Edilsinho é uma pessoa bem interessante. Muitas vezes me surpreendo com a forma com a qual encara, explica e se relaciona com o mundo. É como se fosse feito de uma matéria bem antiga, e sua pele idosa, marcada pelo tempo, a casca de uma árvore já sofrida pela ação das intempéries. Uma árvore ali, no meio dos caminhos que o povo estabeleceu secularmente para a facilidade dos transportes.

Foi assim que na última consulta ele me explicou algo a respeito de certa medicação anti-inflamatória que ele se automedicou, referindo-se à Nimesulida.
“O remédio né pa sará não, é pra tanger. A dor do espinhaço foi pras perna. Ela não sarou foi tangida pras perna”.

Para ele a dor ou a doença, ele se diagnosticou com reumatismo, é como gado, tem uma percepção destes fenômenos como sendo eles elementos vivos, materiais... Ele comenta coisas a respeito do seu suposto ou real reumatismo como se estivesse dizendo de uma pessoa com suas características de personalidade peculiares.

Indago e indago, pergunto várias vezes a ver se penetro o sentido desta alma, feita de pedra e lodo, organizada de um modo ancestral laborado em um tempo onde a chuva era mais frequente e as mães viam sua prole desaparecer na névoa de um tempo muito duro, onde os mitos que organizavam a existência, assim me parece, escapavam o comum dos demais lugares, tal o isolamento em que nasceram.


Recebam um abraço mítico de Aureo Augusto.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O MIJO DO CACHORRO

Nestes últimos tempos tenho tido momentos onde recebo presentes sob a forma de reconhecimento do meu trabalho, visitas de pessoas de significativo valor social, político e administrativo, afagos dos filhos, manifestações de consideração dos vizinhos, e, até, participar de um documento do Globo Repórter.

Tenho plena consciência de que tais momentos são excelentes para nos fortalecer e para nos incentivar a seguir adiante em nossas tarefas, no entanto, sei que também podem nos induzir a sentir uma vaidade desmedida. Neste agora e como sempre luz e sombra dançam a vida para torna-la mais divertida.

Por sorte, em muita medida aprendi a dialogar com a minha vaidade, e quero que saibam todos que quem mais me ensinou a não me deixar levar (demais) pela vaidade foram as mulheres que passaram (e passam) pela minha vida, com seus “sim”, com seus “não” e “talvez”, suas percepções, suas palavras de elogio, entusiasmo, críticas e negações. Sou grato a elas, porque sem sua percepção acurada eu teria afundado em várias fantasias, perdido o norte mais ainda do que o habitual de me perder. Naturalmente alguns homens também entraram em minha vida e me agraciaram com sua ajuda, mas foram elas as grandes professoras que me ensinaram a nunca esquecer de que sou um entre outros, e, como todos os demais, uma mistura de maravilhas com nulidades.

No penúltimo domingo, na feira, após um encontro com pessoas que muito me agradaram e depois de o povo do Capão me elogiar e tripudiar de mim com brincadeiras variadas e piadas sobre a minha aparição na televisão, parei na barraca de Japão, que comentou da beleza do Globo Repórter e de minha participação. Nesse momento um cachorro se aproximou e... Mijou na minha perna.
Japão e os demais deram pra rir, e eu também. Aquilo, por paradoxal que pareça, não me irritou. Para mim foi algo me colocando em meu devido lugar. Que ninguém pense que desejo aniquilar o ego. Longe disso, quero-o forte, porém em sua função. Assim o elogio de meus amigos a par do mijo do cachorro me puseram no meu lugar entre a maravilha e a nulidade.


Recebam um abraço de Aureo Augusto, uma pessoa como você e os demais.