segunda-feira, 20 de outubro de 2014

TURISTAS SEM NOÇÃO

O Vale do Capão tem atraído cada vez mais turistas, o que muito me agrada já que isso não apenas dinamiza a economia local como contribui para que os moradores ampliem o seu já alto carinho pelas belezas naturais daqui. Eu gosto de conversar com o pessoal que chega pra visitar este lugar e estas pessoas tão hospitaleiras, no entanto tem alguns turistas que são excessivamente folgados.
Ontem cheguei a casa à tarde e havia um carro que entrou no lugar onde eu moro e parou junto a minha casa, bloqueando o acesso a minha garagem. Era um carro com placa de São Paulo. De início pensei que fosse algum amigo meu que chegou sem avisar (coisa rara, pois meus amigos têm a decência de avisar quando vêm) e saiu pra dar uma volta enquanto me esperava. Esperei um pouco e fui pintar. Pena que me concentrei demais no trabalho e não vi quando saíram, pois desejava comentar com eles o quanto foram invasivos e desconsiderados.

Com certeza eles desejam ser bem recebidos pelos moradores daqui, querem sorrisos e hospitalidade como todos os turistas, mas esquecem de que “relacionamentos” são vias de mão dupla onde todos devem dar a sua contribuição.

E vocês pensam que esta é a primeira vez que acontece isso? Não. E não é só comigo. Vários moradores se queixam disso. Dinha, vizinha que mora depois da ponte comentou que as pessoas deixam os carros tão colados na porta dela que dá até dificuldade de sair. Queria que vocês vissem a casa de Dinha e o espaço que tem enorme de modo que não há sentido em fazerem isso. Que pessoalzinho!

Ainda bem que a maioria tem polidez (urbanidade)! Acho estas palavras bonitas. Comte-Sponville em seu belíssimo Pequeno Tratado das Grandes Virtudes – um livro que deveria ser lido por todos – comenta que a polidez não é uma virtude, mas nos prepara para desenvolvê-las. Isso me agrada. Aliás, é interessante pensar que a palavra urbanidade vem de urbano. É que aqueles que vivem em cidades são levados a desenvolver maior senso de que a nossa liberdade termina quando começa a do outro, senão não ia dar para as pessoas viverem juntas. Para viver juntas em harmonia há que seguir certas regras. Quem mora no campo, onde as distâncias são maiores isso não é tão incisivo. Vai daí que o nome urbanidade veio a ser criado, dando batismo ao ato de estarmos atento a que o nosso comportamento não venha a agredir ou prejudicar aos demais. Seria bom que os donos dos carros que bloqueiam as pessoas tivessem um pouco mais de urbanidade.

Espero também que aqueles desprovidos de polidez prefiram passar longe do Vale do Capão, deixando-o para que aqueles que querem realmente estar em harmonia com o local e seus moradores.


Abraços turísticos de Aureo Augusto.

3 comentários:

  1. Caro Áureo! Ter a entrada da casa bloqueada, no meu caso é um edifício, não é privilegio de vocês, moro na Praia do Flamengo, próximo de Itapoã (Salvador) e perdi a conta de quantas vezes fato igual aqui aconteceu!

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    1. Parece que falta urbanidade tb no espaço urbano, não é, meu amigo?

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  2. Parece (e é) paradoxal, mas a grande lição de urbanidade,
    a tive no interior de Sergipe, quando saí de Redife para
    um estágio numa companhia de cimento.
    Enccontrava pessoas que nunca vira e me diziam "Bom dia!".
    Enquanto na cidade me acotovelava nos ônibus e, no máximo,
    era xingado! E nem na universidade, em meio à multidão de,
    supostamente, colegas, recebia cumprimentos, se não fosse
    da mesma sala.
    Deve ser algo semelhante ao que ocorre em São Paulo, onde
    os lojistas reclamam das ciclovias nas avenidas.
    Acho que lhes faltam esses turistas insanos
    bloqueando suas portas.
    Abraço com noção.

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