domingo, 25 de maio de 2014

SAÚDE E INTERNET - CUIDADO!

Há alguns dias atendi a uma moça aqui do Vale do Capão que tinha um problema de saúde. Pesquisou na internet sobre o que sentia e isso tornou a consulta muito mais instigante e produtiva. Este é um dos motivos pelos quais acho maravilhosa este instrumento de conhecimento. Eu mesmo gosto de pesquisar na net, embora ainda engatinho na tecnologia.

No entanto, outra pessoa veio apavorada porque apresentava um sintoma relacionado a um problema de pouca monta, mas que na net ela encontrou associada a uma doença bastante grave e mortal. O susto foi resolvido rapidamente quando demonstrei que o sintoma era afim com algo superficial e de fácil solução.

O segundo exemplo não é em si um problema só da internet já que mal entendidos são disseminados em qualquer dos inúmeros meios (mídias) comunicativos. Até no bate-papo entre amigos isso acontece. Mas a internet, talvez por sua disseminação, pode espalhar absurdos como nenhum outro meio e isso me faz pensar até porque recebo vários e-mails com pedidos de confirmação do que está posto. Uns exemplos e comentários:
Tem um afirmando que o limão é 300mil vezes mais potente que a quimioterapia contra câncer. Aliás, outro substitui o limão pela graviola. Mas, em que pese a troca, o absurdo é o mesmo. Conquanto o limão e a graviola sejam alimentos maravilhosos, dotados de alto valor nutracêutico, NÃO devem ser comparados à quimioterapia anticancerígena e tampouco matam a célula com a doença. O e-mail sugere que comer estas frutas equivale a ir ao hospital, sofrer internação e receber na veia determinada quantidade de uma substância que, uma vez no corpo deverá alcançar as células cancerígenas e eliminá-las com maior ou menor sucesso, conforme vários fatores. Ora, não é essa a função da alimentação, cujo papel principal é fortalecer o corpo para que ele se resolva.

Por outro lado, ainda que o limão e a graviola contenham substâncias que ataquem, enfraqueçam ou mesmo matem, células cancerígenas, são em pequena quantidade; tão pequena que para este fim, seria incapaz de ação efetiva. Ademais, cito Paracelso: “A diferença entre remédio e veneno está na dose”. Os quimioterápicos são venenos que matam primeiro as células doentes (mais frágeis), mas que agridem também as células normais (mais resistentes). Tem que ser aplicado em uma dose que mate o que se quer matar, mas não mate o que se quer vivo. Atentemos para o fato que se o limão ou a graviola tivessem um veneno tão incrivelmente potente, pobre de quem come estas frutas. No entanto, de tudo comentado, o mais importante é que estas frutas NÃO têm potência anticancerígena comparável à quimioterapia e a IRRESPONSABILIDADE veiculada pela mensagem é que incautos podem ser estimulados a parar tratamentos e sofrer por isso. Registro que o consumo regular destas frutas representa um dos meios de prevenir e contribuir para a cura do câncer. Mas mensagens irresponsáveis como estas só afastam os estudiosos da fitoterapia e outras práticas terapêuticas naturais.

Há outra postagem que diz que cebola aprisiona a bactéria da gripe. Começa que gripe não está associada a bactéria e sim a vírus. Aliás, os vírus não são vistos em microscópios comuns, como diz a mensagem.

Sempre fico surpreso com a propensão de um número significativo de internautas a reenviar informações sem verificar primeiro se são verdadeiras ou úteis. Alguns ainda dizem que estão repassando sem verificar; ora, se não verificou não passe. Muita coisa ruim e prejudicial tem sido veiculada porque nós, honestos internautas, deixamos de ver com olhos críticos.
Mas o que mais me surpreende é ver como pessoas usam seu tempo construindo e divulgando apresentações, algumas delas bem feitas, que levam no mínimo à desinformação e que podem ser muito prejudiciais aos demais. Que tipo de gente é essa?


Recebam um abraço intrigado de Aureo Augusto.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

DANÇA DO VENTRE

Há algum tempo chegou ao Brasil a Dança do Ventre e agradou em cheio a nossa gente.
Conheci-a em um momento de grande felicidade para mim, quando fui homenageado pela população do Vale do Capão, há muitos anos, no dia do médico. Naquela data inesquecível, foram recitadas poesias, apresentados esquetes teatrais, o drama (que é uma tradição do Capão que estava sendo esquecida) e, uma mulher que à época morava aqui mostrou a todos a dança do ventre. O tempo passou e esta forma de arte fincou raízes aqui, graças a diversas pessoas, destacando-se Francesca Carfi (italiana residente no Vale) e Caty (Ecatharine), jovem nativa.

Confesso que não sou grande admirador desta dança enquanto fenômeno estético (coisa que reforça o que direi a seguir), embora me agrade ver Katy dançando, com seus olhos rasgados e presença ao mesmo tempo poderosa e grácil. Sendo assim, por não ter grande apreço por esta arte, nunca me preocupei muito em ir às apresentações.

Porém aconteceu um fato que muito me chamou a atenção: Muitas mulheres das mais variadas idades que sempre vinham à consulta por problemas ginecológicos quando começavam a praticar a dança do ventre deixaram de se queixar daqueles problemas. Então passei a orientar a quem me procurasse com estas queixas a se matricular nos cursos de Francisca e de Katy. Então vi confirmadas minhas expectativas. Elas ficaram livres dos problemas. Ainda reparei (embora ainda tenha poucos casos para corroborar observação) que quem pratica a dança tem partos mais rápidos.
Encontrei Katy recentemente e cobrei dela o recomeço das aulas de dança e ela me anunciou que estava recomeçando. Fiquei feliz, pois assim vou ter menos trabalho (rsrsrs).

Não espero que esta observação que faço tenha o peso de um trabalho científico – conquanto valorize muito aq que a vida e meus clientes me trazem – no entanto quero que este post estimule às mulheres a praticarem esta e outras formas de atividade física e arte que lhes melhore o funcionamento pélvico. É possível que já existam trabalhos científicos sobre o tema. Se os há, procuremos, pois estou inclinado a considerar que os movimentos desta região, na dança do ventre, no samba de roda, na dança afro e em outras atividades artísticas, contribuem para a melhor circulação sanguínea, linfática e energética nos órgãos pélvicos, melhorando também o funcionamento intestinal, essencial para a boa saúde.


Recebam um abraço dançante de Aureo Augusto

segunda-feira, 12 de maio de 2014

COUVE, COMA SEM PENA!

Couve, legume de mil virtudes.
Hipócrates (séc. V a.C.)

Seu nome científico é Brassica oleracea acephala, e é uma das plantas mais importantes para nós, seres humanos; há muito queria escrever sobre a couve, mas era difícil resumir o tanto de bom que há nela – aqui vai uma tentativa.
Faz parte de uma família de plantas, chamadas crucíferas, que inclui o maravilhoso repolho (Brassica oleracea capitata) e o sensacional brócolis (Brassica oleracea italica). Apenas de passagem acrescento que neste gênero, Brassica (família das crucíferas), também temos o rabanete, o agrião, a mostarda e a canola (variedade da colza). Esta última foi difamada na internet quando se divulgou que o óleo de canola era um refugo industrial do petróleo. Fiquei assustado quando li, mas logo depois uma amiga mandou-me por acaso uma foto dela passeando em uma plantação de canola na França. Este episódio me fez ainda mais desconfiado das informações na internet (será tema de outo post).

A couve é tão legal que os gregos antigos achavam que a urina de mulheres grávidas que comessem muita couve era medicinal. Foram os primeiros que intuíram a sua riqueza em vitamina A (antes de as vitaminas serem descobertas). Mas além da vitamina A, ela tem propriedades medicinais que justificam sua presença na mesa, pelo menos 2 vezes por semana: é expectorante em problemas respiratórios; protege a mucosa do estômago – importante contra gastrites e úlceras; para problemas do fígado; muito boa para tudo o que afeta a pele – eczemas, coceiras; ajuda a regularizar o funcionamento do intestino, ou seja, contra prisão de ventre (obstipação). Como se não bastasse tem sido usada com sucesso contra dores de cabeça, dores musculares e neurogênicas (dos nervos). Fontes de ferro, vitamina C, ácido fólico e a já mencionada vitamina A.

Você acha muito? Imagine quando souber que as antocianinas, os sulforafanos e os glicosinolatos presentes na couve e suas descendentes (repolho, couve-de-bruxelas, brócolis) são poderosas substâncias anticancerígenas. Estudos mostram que o consumo regular de couve e das demais crucíferas reduz em 40% o risco de câncer de mama, além de diminuir o risco de câncer de bexiga (50%), de pulmão, do sistema digestório (estômago, intestino etc.), próstata (comer crucíferas 3 vezes por semana é até mais protetor do que consumir tomate).

Um importante pesquisador em alimentação e câncer, Dr. Bélivau afirma: “de todos os vegetais comestíveis para os humanos, os legumes crucíferos são provavelmente aqueles que contêm a maior variedade de moléculas fitoquímicas com propriedades anticâncer”.

Como se não bastasse, a couve tem uma relação magnésio/cálcio que faz com que o cálcio desta folha seja mais bem absorvido e utilizado pelo organismo que o cálcio do leite e derivados. O que contribui significativamente para a calcificação óssea, melhor funcionamento dos músculos, redução de peso, regulação da pressão arterial, entre outras vantagens. Aliás, seu teor em magnésio faz com que tradicionalmente seja vista como boa para o mau-humor e o desânimo.
Vamos “cair matando” na couve?


Recebam um abraço couvístico de Aureo Augusto.

segunda-feira, 5 de maio de 2014

EPICURO E A SAÚDE GLOBAL (LIDANDO COM O PRAZER)

Partilho um texto (excerto de Carta Sobre a Felicidade – a Meneceu, publicado em grego e português pela Editora UNESP em 2002) de um precursor de todo o movimento que, em dado momento se autodenominou alternativo. Epicuro, seu autor, talvez tenha sido o primeiro a propor a formação de uma comunidade alternativa, nos moldes pensados no século passado. Viveu na Grécia. Em 306 a.C. fundou em Atenas uma comunidade que atraiu gente de muitos lugares, onde as pessoas viviam plantando o que comiam, encontrando prazer na vida simples, vivendo frequentemente em barracas:
Nunca devemos nos esquecer que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, e nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.
Consideremos também que dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz; em razão desse fim praticamos todas as nossas ações para nos afastarmos da dor e do medo.
...
Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer. Há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles nos advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.
A filosofia de Epicuro está centrada no fato de que todos os seres procuram sempre o prazer (aqui significando bem estar). Devemos considerar que seu exemplo é bem atual, inda mais neste momento, de globalização (que a rigor começou na pré-história, ampliou-se com as navegações portuguesas e agora culmina com a cada vez maior interdependência comercial e com a internet) das relações entre as diversas pessoas, culturas, nações, economias. Mesmo morando no Vale do Capão, sei tanto do que acontece com meu vizinho, em tempo real, como do que se passa no Irã, na Indonésia, ou no Kwait. Somos uma comunidade terráquea e devemos atentar para o fato de que os nossos desejos não fundamentais, bem como os não naturais, frequentemente instaurados em nós por uma mídia a serviço do lucro de corporações que não levam em consideração a sustentabilidade, dizia, que tais desejos podem ser uma declaração de morte ao nosso futuro.
Vai daí que precisamos aprender a lidar com o prazer, uma vez que a nossa recusa a tratar isso da forma adequada nos tem levado a deixar-nos ser vítimas de uma mídia que nos impõe a medicalização da vida, e a agrotoxificação do mundo. No afã de atender a prazeres imediatos não podemos nos considerar meras vítimas inocentes de corporações que querem lucro a todo custo, uma vez que em grande medida (e sem querer tirar a responsabilidade – ou irresponsabilidade – das grandes empresas e governos) nós também somos agentes ativos de nossa própria desgraça ecológica.

“O futuro não é totalmente nosso, nem não-nosso”.  Mas é nossa a decisão de como vamos atuar no presente com vistas ao futuro. Isso tanto em nossa vida particular quanto na relação com o meio ambiente. Lembrando Morris Bermann (in El Reencantamiento del Mundo (Cuatro Vientos, Santiago-Ch) quando nos diz que o jeito com o qual lidamos com nosso corpo é isomórfico à nossa ação com o ambiente entendemos que agrotoxificamos o ambiente na mesma medida em que medicalizamos nossa vida.

Exemplo disso é a forma imediatista com que lidamos com nossas dores físicas e psíquicas. Os pais não suportam suportar a dor nos filhos e em si. Para não sentir a mínima dor, desconforto ou doença aguda nos medicamos assiduamente, o que traz consequências avassaladoras para a saúde, seja por causa de efeitos colaterais, seja por que deixamos de ter competência para lidar com a dor e a perda. Aos poucos somos tomados por um narcisismo que, em última análise é autodestrutivo (sobre isso veja Dana Zohar, in O Ser Quântico). E acabamos por agir com o ambiente, como se estivéssemos fora dele e para sermos por ele servidos .  Dessa forma e no desejo de atender a desejos tornados essenciais, mas que não passam de não naturais, ou não necessários, acabamos por sobre exigir da Terra que “pode prover a toda e qualquer necessidade, mas não a toda e qualquer cobiça” (Gandhi in Minha Vida e Meus Encontros com a Verdade, Diffel, São Paulo).
Saídas existem e são muitas, porém todas passam pela consciência. Passam por aprendermos com o passado, netamente com o século XX, o das ideologias, onde o culpado era sempre o outro (capitalistas, comunistas, fascistas, democratas, negros, brancos, europeus, cristãos etc.) que deveria, preferencialmente, ser eliminado. Por assumir a responsabilidade pelos nossos desejos e pelo futuro, bem como com pelo presente. Sem ver as medicações como obra (apenas) de interesses escusos, entendê-las como úteis em determinadas circunstâncias, mas evita-las sistematicamente. Procurar encontrar soluções para o desabastecimento de grande parcela da população mundial sem o uso fácil de insumos artificiais e alheios aos costumes locais. Não alinhar-se com hegemonias óbvias, apenas porque poderosas, porém não esquecer que aquilo de hegemônico assim se tornou não por obra do acaso. Entender as injunções que criaram um mundo tão injusto, tão hipócrita, tão terrível, mas que nos traz maravilhas que merecem contemplação. Estas são algumas das tarefas que devemos assumir.

Nossa tarefa não é fácil. Estamos sendo convidados a rever o mundo que criamos não mais com o olhar meramente e facilmente crítico depreciativo. É tão fácil derrubar, desconstruir, quando não temos competência para colocar-nos ombro a ombro com o nosso próximo. Por isso nossa tarefa é difícil. Somos nós, os que padecemos de narcisismo, de sedentarismo (ainda que seja uma forma de sedentarismo psíquico que nos faz acreditar em teorias nas quais mais uma vez clivamos o mundo entre pessoas certas e pessoas erradas). Nossos próprios desvios psicológicos e nossas necessidades narcísicas nos fazem condenar aos demais e repetir toda a história da humanidade onde sempre criamos a necessidade de ricos e pobres, líderes e liderados (rigidamente estabelecidos), nobres e plebeus, ortodoxos e heterodoxos, salvadores do mundo e destrutores do mundo, absolutamente bons e absolutamente maus, este partido e aquele partido...

Talvez esta globalização que estamos vivendo, com tudo de absurdo que há nela, seja enfim uma oportunidade de viver como se vivia na aldeia, um convite a sairmos do conforto umbilical de estar certo das nossas certezas. A chance de desfrutar prazerosamente do ato de viver a satisfação dos nossos desejos naturais e até alguns a mais, atendendo também ao desejo de que as gerações futuras possam desfrutar do mesmo prazer de cuidar do mundo.

Recebam um abraço global de Aureo Augusto.