segunda-feira, 28 de outubro de 2013

ALHO PROTEGE CONTRA PARTO PREMATURO

Lendo a revista da PROTESTE (www.proteste.org.br), uma associação e consumidores da qual faço parte, fui alertado para um assunto que me chamou a atenção e isso me levou a ler um trabalho (Intakes of Garlic and Dried Fruits Are Associated with Lower Risk of Spontaneous Preterm Delivery) publicado em julho/13 no The Journal of Nutrition.

Desde há muito que se sabe que infecções, principalmente urinárias, durante a gestação podem aumentar o risco de parto prematuro e é este um dos motivos pelos quais o Ministério da Saúde quer que as gestantes façam o exame de urina pelo menos duas vezes durante a gestação. Também sabemos que o alho, a cebola, cebolinha nos protegem contra infecções. Porém o legal deste estudo é juntar as duas coisas. Fizeram um acompanhamento de quase 20 mil mulheres e notaram que aquelas que consumiam os temperos citados e também frutas secas (passas, damasco, ameixa etc.) que contêm substâncias que atacam os micro-organismos causadores de infecções, tiveram bem menos partos antes da hora.
Mais um motivo para que abandonemos de vez os temperos artificiais.
Aliás é também outro motivo para se filiar à PROTESTE.

Recebam um abração de Aureo Augusto.


quarta-feira, 23 de outubro de 2013

MORONETA

Participei na semana passada do I Simpósio de Fitoterapia na Bahia, promovido pela Escola de Farmácia da UFBa com apoio da SESAB. Aprendi coisa pra dar de pau. Foi muito legal. Dizer tudo que vi e aprendi é muito para um bloguezinho, mas bem que eu gostaria.

Teve uma fala que me causou grande impressão. Com o título, Etnofarmacologia, Eficácia e Segurança, proferida por Eliana Rodrigues. A palestrante foi ótima em seu jeito de trazer a nós sua experiência, o que por si já conta bastante. Além disso, fez suas pesquisas entre diversas populações indígenas na Amazônia, Maranhão e oeste do Brasil, grupos humanos com pouco contato com a civilização ocidental e que apenas dispõe como terapêutica seus próprios recursos recolhidos na mata, com observações bem interessantes, que me puseram pra pensar.
Comentou que para o pesquisador dono de uma postura científica existem algumas dificuldades no recolher material entre os índios. Um deles é que a relação com os produtos vegetais (e outros) é muito contextual, podendo depender de tempo, local, etnia etc. de modo que uma dada planta pode ter seu uso alterado de um povo para outro ou dentro do mesmo povo na dependência da miscigenação de uma pessoa com outra tribo. Vai daí que determinada planta pode ser usada para dor de barriga em um lugar e para problemas urinários em outro. Qual destes usos é o correto? O que é correto (refiro-me ao significado da palavra)?

Ou seja, a subjetividade pode ter um papel maior do que o desejado em uma pesquisa científica. Isso me pareceu bem interessante. Facilmente descartaríamos uma das informações ou as duas por não corresponderem ao ideal da pesquisa, mas isso pode ser um erro uma vez que a realidade não é apenas o que ali está e sim, também, aquilo que significa para nós. Não proponho um dilema de Wigner no que respeita à realidade, não proponho um solipsismo. Porém anoto que a realidade não é independente da pessoa, conquanto não seja fruto apenas da pessoa.

A fala me fez lembrar Etienne Samain, em seu livro Moroneta Kamaiurá. Ali o antropólogo explica que moroneta é uma palavra que poderia ser traduzida como relato. Mas este relato pode ser uma história, um desenho etc. e a mensagem a ser passada depende do lugar onde se apresenta. Assim a história é diferente se for contada na beira do rio ou dentro da oca, e, a moroneta é carregada do fato local (no tempo e no espaço) e refletem as crenças, os modelos de pensamento etc. da comunidade. Sendo assim não podemos dizer que moroneta é uma mera narrativa (escrita, cantada ou pictórica) de um fato. Pensei comigo que quando Eliana recebia informações sobre uma determinada planta, não recebia a narração de um uso e sim uma moroneta da planta. Gostei disso e não me importa muito se é certo ou útil esta interpretação.


Recebam um abraço de moroneta de Aureo Augusto.

domingo, 6 de outubro de 2013

ORGANICIDADE E POESIA

Disse Anaxágoras filósofo de Clazomenes (sec. V a.C.):
Temos ante os olhos um pedaço de pão. Parece pão e nada mais. Se o comemos, se transforma em pele, carne, ossos, cabelos etc. A matéria mudou de uma coisa a outra? Isso não é possível. Há, pois, que supor que no pão existe já um sem número de matérias de que se compõe o corpo humano. Seu pequeníssimo tamanho nos impede de distingui-las, e só as reconhecemos por seus efeitos. Agora, quem mobiliza estas partículas e as faz organizar-se de uma ou de outra maneira?

Anaxágoras, embora tenha vivido há mais de 25 séculos atrás teve uma mente bastante lúcida. A frase dele acima, que suscita mais perguntas do que entrega respostas, mostra a agudez com que questionava os fenômenos naturais.
Nos dois séculos anteriores a sociedade grega passou por uma transformação que iria influir todo o modo de pensar e de ser da humanidade. É agradável pensar que um país de pequenas dimensões, pouco fértil, pobre em recursos materiais e com uma população diminuta veio a trazer um extraordinário contributo para a formação da sociedade humana e, registro, não apenas à fração ocidental desta humanidade. Os gregos foram formados por um amálgama de raças que em ondas sucessivas ocuparam o sul da península dos Bálcãs. Pode ser que isso tenha sido decisivo para sua competência.

A diversidade da formação dos gregos foi algo essencial para o seu sucesso em determinado momento e talvez o orgulho e a vaidade derivados deste sucesso tenham contribuído para sua decadência posterior. Aqui, onde moro, no Vale do Capão, temos uma comunidade aonde aqueles que chegaram aqui na década de oitenta do século passado logo se misturaram com os locais, que, por algum atavismo raro, mostrou-se muito abertos para assimilar propostas vindas de fora. A sociedade culturalmente mestiça que se formou deu origem a um meio psíquico que tornou o vale, um lugar bastante interessante, fervilhante, promissor, desafiante, atrativo e outros adjetivos.

Por isso vale estar neste Vale e vale pensar no velho Anaxágoras. O que será que faz com que pão vire carne e osso? É maravilhoso que esta comunidade de elementos os mais variados que é o nosso corpo seja também um organismo, ou seja, um que capaz de autonomia, de auto-organização, de reconstrução quando ferido, enfim, de poiesis.

Poiesis é uma palavra grega que significa criação. Dela vem o termo poesia. A poesia da vida na terra é construída com os corpos dos diversos seres que nela habitamos, inclusive nós, claro. Poiesis é uma característica do mundo vivo. Os organismos têm a capacidade de criar a si mesmos, então nós somos a poesia de nós mesmos.

O que você acha de pensar em si como uma poesia? Pense em si como uma poesia que se desloca no espaço e no tempo, parte de um grande livro de poemas, que merece de nós mercê, atenção, cuidado, amor prático. E é isso que somos com cada folha de grama, caracol ou abelha, as poesias se tocam e maculam o nada, ousando existir.


Recebam um beijo poético em seus corações de Aureo Augusto.