quinta-feira, 11 de julho de 2013

MODERNIDADES DE ANTIGAMENTE

Pensar nas dificuldades dos tempos pretéritos é algo recorrente nas consultas no posto de saúde onde trabalho no Vale do Capão. Ocorre que quando os idosos vêm à consulta eles sempre gostam de se estender um pouco mais comentando do mundo e das coisas, inúmeras pertinências que fazem da minha vida mais vivível, agradável.

Coisa bem frequente é rirmos do pessoal que se queixa do Capão de agora, considerando-o excessivamente movimentado e confortável. Para este grupo de pessoas Vale do Capão de verdade era o de antigamente, quando não havia mais que 3 automóveis, vendinhas sem nada mais que fumo de rolo, cachaça, bolachão mata-fome... Querem um lugar sem calçamento ou água encanada, sem luz elétrica e sem o maior de todos os monstros da modernidade, a televisão.

O povo não se cansa de rir. Nem eu. Em geral as pessoas que disso fazem apologia, dispõem de recursos financeiros para os casos de problemas de saúde rapidamente se deslocarem para o sul do país onde logo são atendidos, ou, quando cansam da vida “selvagem” partem para outras plagas com outras ideologias.

Claro que alguns não são tão radicais e desejam mais repouso para os cansaços citadinos. Porém, mesmo estes deveriam pensar um pouco mais, pois pode ser romântico lavar pratos com folha de caiçara ou de embaúba e alvejar roupa com folha de mamoeiro, mas é bem mais prático o uso do sabão (como me disseram Beli, Dinha e Nadir). Das modernidades de antigamente, são poucas aquelas que o povo idoso lamenta a ausência.

Estes dois últimos dias temos tido pouco movimento no posto. É que amanhã começa um dos mais belos eventos do Capão, o FESTIVAL DE JAZZ. Aí todo mundo está trabalhando para deixar tudo pronto para os inúmeros visitantes. Trabalho para todos, dinheiro para todos, dignidade para todos. Sei que dignidade não se compra, mas vocês entendem o que quero dizer. Quando aqui cheguei as pessoas tinham vergonha de si. Hoje se sentem importantes na própria medida. Isso não tem preço!


Recebam um abraço jazzístico de Aureo Augusto.

4 comentários:

  1. Que lindo, amigo Áureo. Quanta sensibilidade. Eu entendo o que dizes.

    Cações tb tinha estes "romantimos" dos antigamente mas eu estou muito feliz com os rumos do progresso pois ainda estão caminhando de mãos dadas com a preservação ambiental. E vê, os filhos e netos de nativos, se graduando, comprando seus carrinhos, tendo suas mordomias e confortos tb,me faz muito feliz.

    Lembro de uma cumadi nativa, Raimunda, Mumum para os íntimos que tinha o sonho de ter uma mesinha de centro, na sua salinha simples. Nossa.

    Abraços e dia 13 irei, com a minha família, lhe dar um grande abraço. Me aguarde....

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    1. veja que coisa: o sonho dela era ter uma mesinha de centro!!! Pode ser mto romântica a pobreza, mas só o é para quem não vive isso.
      Beijão

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