sábado, 20 de julho de 2013

LÍNGUA DO VALE DO CAPÃO

A professora Jacira, aqui do Vale do Capão (Esc. Brilho do Cristal) fez uma pesquisa com seus alunos, buscando resgatar as palavras usadas pelos antigos daqui. Ela me mostrou o “dicionário de termos do Capão”. Guardei-o para fazer uma coisa mais arrumada, mas o tempo foi passando e eu sem ter muito tempo... Vai daí que resolvi apresenta-lo sem nenhuma arrumação. Muitas destas palavras ainda são de uso corrente. Veja só:
CESSAR  -  peneirar
DIFRUSSE-   resfriado
CONSTIPIU- estoporo
LICUTICHO- pessoa inquieta
MALINEZA- criança que mexe em tudo
URINÓLIO  -pinico
NOLO         -  nó
ARRIBAR -  levantar
QUIÇAÇA- mato alto
CISCO - poeira
CAPOEIRA  -mato
PONGA- carona
BISAQUE – bocapiu
BITUCA  -ficar de olho
CHACULATEIRA -bule/chaleira
ENGANJO -dengo
FUXICO - fofoca
MUFINO- medroso
SANZECANO/ CURRICANO- que passeia muito e/ou pessoa que não tem muito o que fazer
LOTADO-cheio
FÁTIMA-esmalte
MIXICUM inquietação
LUTRIDA -exibida
LIVUSIA -assombração
TIRIRICA -mato que corta e muita sujeira no corpo
PATETO -sem ação ou com excesso de paciência
CAPANGA- bolsa de tecido ou couro das quais os garimpeiros carregavam seus objetos
TALANGO-pedaços de roupas velhas
GRUDE-bolo
TUBATINGA -argila
LATUMIA- palhaçada
BUJINGANGA-variedades de pequenos objetos
LANÇADEIRA-vômito
CONSOLADOR- chupeta
PRECATA-chinelo
CURRIAR- xarope caseiro
JIBEIRA-bolso
SAMIADO-guloso
USURENTO-egoísta
CANDONGAR- reclama muito
CURRIÃO-cinto
CALUNDÚ-chorão
TRAQUINEZA variante de malinesa
ESTILO-educação
TAQUIN-pedaço pequeno
MEROA-minhoca
CHAPA-dentadura
SENTINELA-velório
PINICÃO- beliscão
PITAR-fumar
SAIOTE- anágua
GUARNIÇÃO-jogo de cama
TORNO pedaço de madeira colocado na parede que serve como cabide
GALINHOTA – carrinho de mão
OBRADEIRA- disenteria/caganeira
PILERA-falta de respeito
SALIENTE- ousado
FURTUME-cheiro mal
CATINGA-  geralmente se refere à  “odores” cheiro ruim
SEROL-sujeira
MORMAÇO- formação p/ chover
SAÍDA- exibida
ESTRUME- adubo orgânico
CUTELO- faca cega
BRUTA- estúpida
ARRELIAR - rir das   pessoas
CAXIXE – chuchu
BUCHO – mulher grávida
CACARIA- casinha com objetos velhos em que as meninas brincavam antigamente
SILIMITRIDA/SILIGRISTIDA – pessoa extrovertida
NANICA – muito pequena
INSUQUIR- comer demais
AÇOITADO- corajoso/determinado
Distrair os dentes – extrair os dentes.


Recebam um abraço vocabular de Aureo Augusto.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

MODERNIDADES DE ANTIGAMENTE

Pensar nas dificuldades dos tempos pretéritos é algo recorrente nas consultas no posto de saúde onde trabalho no Vale do Capão. Ocorre que quando os idosos vêm à consulta eles sempre gostam de se estender um pouco mais comentando do mundo e das coisas, inúmeras pertinências que fazem da minha vida mais vivível, agradável.

Coisa bem frequente é rirmos do pessoal que se queixa do Capão de agora, considerando-o excessivamente movimentado e confortável. Para este grupo de pessoas Vale do Capão de verdade era o de antigamente, quando não havia mais que 3 automóveis, vendinhas sem nada mais que fumo de rolo, cachaça, bolachão mata-fome... Querem um lugar sem calçamento ou água encanada, sem luz elétrica e sem o maior de todos os monstros da modernidade, a televisão.

O povo não se cansa de rir. Nem eu. Em geral as pessoas que disso fazem apologia, dispõem de recursos financeiros para os casos de problemas de saúde rapidamente se deslocarem para o sul do país onde logo são atendidos, ou, quando cansam da vida “selvagem” partem para outras plagas com outras ideologias.

Claro que alguns não são tão radicais e desejam mais repouso para os cansaços citadinos. Porém, mesmo estes deveriam pensar um pouco mais, pois pode ser romântico lavar pratos com folha de caiçara ou de embaúba e alvejar roupa com folha de mamoeiro, mas é bem mais prático o uso do sabão (como me disseram Beli, Dinha e Nadir). Das modernidades de antigamente, são poucas aquelas que o povo idoso lamenta a ausência.

Estes dois últimos dias temos tido pouco movimento no posto. É que amanhã começa um dos mais belos eventos do Capão, o FESTIVAL DE JAZZ. Aí todo mundo está trabalhando para deixar tudo pronto para os inúmeros visitantes. Trabalho para todos, dinheiro para todos, dignidade para todos. Sei que dignidade não se compra, mas vocês entendem o que quero dizer. Quando aqui cheguei as pessoas tinham vergonha de si. Hoje se sentem importantes na própria medida. Isso não tem preço!


Recebam um abraço jazzístico de Aureo Augusto.