domingo, 10 de junho de 2012

MUSEU BRITÂNICO DE TODO O MUNDO

O ponto alto ontem foi uma visita ao British museum. Tivemos a sorte de Eduardo um grato amigo estar por aqui a trabalho e ontem, com um casal lisboeta (na verdade ele é angolano, porém vivem em Lisboa) nos ciceronearam até o famoso museu. Já me haviam alertado de que este museu é uma terrível armadilha para os incautos. Pois confirmei, já que desde o momento em que entrei até o fim (ficamos entre os últimos a sair), incansavelmente os olhos, ouvidos, corpo, tudo em total alerta para captar a infinidade de sentimentos, informações e sensações que o precioso, vivo e dinâmico contato com o passado gera. Vi-me novamente criança, aturdido diante da Grécia antiga. Estatuetas de Tanagra, espelhos de bronze, potes, kilix, mármores de várias épocas se sucedendo mostrando-me o tempo em “câmera rápida”. É difícil dizer o que se passou comigo. Agora tenho pena dos que me acompanharam e tiveram que esperar pacientemente eu ficar longo tempo olhando aquela ânfora que conhecia em fotos. Ou uma escultura delicada, colares testemunhando antigas vaidades, brinquedos de crianças (as barbies de outrora)... No meio de tantos instrumentos de uso cotidiano, de repente estaquei diante de algumas espadas e pontas de lança de bronze dos séculos 12 a 10 a.C. Senti uma estranha sensação; o tempo passou sobre aqueles restos, mas nelas inda fortemente marcado o fato de que foram usadas para tirar vidas. Não mais vestígios de sangue, mas a impressão da morte, da dor... senti muito claro o horror que é habitar corpos de gente a par da graça que é ser gente humana. Somos realmente estranhos, mesmo a nós mesmos. E a experiência de estar no Parthenon, que é um dos tesouros universais da arte? A construção tinha um longo friso belíssimo do qual tenho visto inúmeras fotografias. Porém as fotos mostram pedaços do friso. Ali tive a oportunidade de ver toda a empreitada. Todo. Então tive a revelação da obra como um conjunto, uma unidade, onde os animais e as pessoas se relacionam em um jogo agitado e organizado. Ondas. As patas dos animais formando um drapeado de riscos inclinados para a direita, os troncos dos rapazes do mesmo jeito e o movimento do conjunto lançando-se para a esquerda... Uma brincadeira com o movimento feito na estática da pedra. Ali, um resumo do que era ser ateniense (ou grego) em um momento culminante da civilização humana. Ali a extraordinária mensagem do equilíbrio entre o indivíduo e o social. A individualidade expressa com a contemplação e a regência do meio. A autonomia paradoxalmente elaborada sobre a base da mútua cooperação. Genial, genial, genial! E tudo isso e muito mais à disposição, de graça (não se cobra ingresso), para uma infinidade de pessoas; confesso que naquele momento estava tão ligado nas peças que não vi quase nada do povo ao redor, mas deu pra perceber alguns monges tibetanos, bem como gentes de muitas línguas distintas. Os que gerenciam o museu demonstram grande confiança no fato de que as milhares (senão milhões) de pessoas que ali vão reverenciam as obras pois a proteção é mínima. As lojas do museu poderiam ser roubadas com extrema facilidade. Eles deixam os produtos expostos sem praticamente qualquer vigilância. Nós pegamos o que queremos e vamos pra fila pagar. Esta confiança gera um respeito que impregna o ar. Bom, vou parar por aqui por agora para não cansar demais o leitor. Também estou ficando sem bateria e ainda não consegui um adaptador para a tomada brasileira... Recebam um abraço museístico de Aureo Augusto.

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