quarta-feira, 18 de maio de 2011

RECEITAS DOCES

Taí uma receita deliciosa: Pegue algumas bananas d’água (também conhecidas como nanica e caturra) bem maduras, descasque e ponha em uma panela. Acrescente um pouco de água, cravo e canela em pó. Leve ao fogo brando. Fique ligado para não pegar no fundo e também para não derramar, porque durante o cozimento se forma uma espuma que trasborda. Aos poucos a banana amolece e fica acastanhada. Nossa! É muito gostoso!
Outra receita: Banana-da-Terra cozida, quanto mais madura melhor (para ficar mais doce), com coco ralado. Amassa a banana e mistura com o coco. Experimente. Gosto demais desta merenda. O legal é que não há nenhuma necessidade de acrescentar açúcar. Aliás, temos um problema sério nos casos de diabetes por causa deste tal açúcar, que é como chamamos frequentemente os carboidratos. Tais substâncias são usadas pelo nosso organismo para produzir energia e é bom que escolhamo-las (uau! Viu a linguagem pulcra?) porque quando transformadas em energia no organismo, o produto que sobra é gás carbônico e água, um sai com a respiração e a outra é aproveitada logo. Já quando usamos gorduras ou proteínas para produzir energia os dejetos são tóxicos. Então por que o açúcar é visto como vilão? Quantidade e qualidade definem bondade (ou não).
A filha de D. Hermengarda não tem diabetes, sorte dela. Mas se tivesse, com certeza iria me dizer (tal como a mãe) que não gosta de remédio, mas, ao contrário da mãe, irá se recusar a largar o açúcar branco, o chocolate, certos enlatados (que contêm açúcar oculto) etc. Vocês já conhecem D. Hermengarda e sabem que ela não é obediente e a filha não fica atrás – aliás é por isso mesmo que gosto delas. O problema é que o consumo excessivo (quantidade) de carboidratos pode complicar nossa vida, principalmente se não são integrais (qualidade). O açúcar demais será transformado em gordura que se deposita em células especiais chamadas adipócitos. Inda bem que D. Hermengarda não está mais em idade de parir, poderia querer dar este nome a um dos filhos! Você, leitor pode até rir, mas só o faz porque não conhece alguns nomes que rolam por estas terras interioranas. Tem uns nomes que, a meu ver, podem provocar até diabetes! Eu teria!
Ora, já publiquei aqui no blog uma postagem sobre diabetes e alimentação, a razão de voltar ao tema foi trazer receitinhas gostosas. Espero que sejam do agrado daqueles que querem algo doce, e não querem, ou não podem (e com certeza não devem) comer açúcar.
Recebam um doce abraço de Aureo Augusto.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

LAMA E LUZ

O sol está bem preguiçoso estes tempos aqui no Vale, mas quando sai irradia tanta luz que as folhas parecem ornadas de diamantes. O sorriso das pessoas fica mais fácil; as serras rebrilham úmidas, justificando o nome de Chapada Diamantina, não apenas pela riqueza passada, mas também pelo brilho diamantífero das paredes lavadas pela chuva que insiste em ficar e botar o rio e os córregos pra correr.
Uma terça-feira veio o carro da prefeitura me buscar. Ocorre que nas terças atendo comunidades distantes e então a prefeitura, quando o carro próprio da secretaria de saúde está ocupado contrata motorista a buscar-me. Fiquei com pena daquele que veio desta vez. Um senhor com seus sessenta anos. Ele deu bobeira e o carro caiu num rego na beira da estrada. Ficou tão fundo que logo o motor descansou no solo. Caro custou pra tirar o bichinho. Enxada, enxadão, macaco, pedras, foi uma luta. Confesso que adorei aquela movimentação de manhã cedo, quando fiquei (ou melhor, ficamos) coberto de lama obrigando-nos a um banho delicioso. Mas foi um atraso tremendo nas consultas no povoado de Lavrinha. O povo chegou a pensar que eu não iria mais para o atendimento.
Apesar dos percalços, da lama que faz até galinha escorregar, prefiro (e nisso sou acompanhado por muita gente que aqui mora) o tempo de chuva ao tempo de sol. Entre lama e poeira, mil vezes lama. Além disso, os céus ficam feéricos, com suas nuvens multicores, prata e chumbo derretidos escorrendo do plúmbeo céu entre dourados, azuis e verdes. O mundo vira espetáculo teatral.
Recebam um abraço de Aureo Augusto.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

MUDAR o REGIME (no PAÍS e no PRATO)

Um amigo me disse que alguém lhe falou que “é mais fácil mudar o regime de um país que o regime alimentar de uma pessoa”. A frase é forte. Hoje trabalho no serviço público, ou seja, ao contrário de tempos atrás quando era procurado apenas por aqueles que, seja por desengano com outras técnicas, seja pelo desejo de mudar, sabiam de minha opção pelo neo-hipocratismo como sistema terapêutico. Quando alguém marcava uma consulta queria que lhe orientasse quanto à alimentação e procedimentos naturistas, não estava interessado em medicações. Agora, aquele que se senta a minha frente, no ambulatório, mesmo que saiba que sou “natural” (como às vezes me chamam), pode querer (e muitas vezes só quer) “remédios de farmácia” e não ervas e orientações dietéticas. Não pense o leitor que me sinto mal em receitar medicamentos. Ocorre que acredito no direito da pessoa tratar-se pelo método que lhe apraz. Claro, também noto que muitas pessoas querem medicações apenas porque não sabem de outras opções. Cabe-me prestar os esclarecimentos necessários para que o meu cliente tenha condições de optar. E o faço na medida do possível (houvesse eu estudado didática, seria bem melhor). Olho com alegria que algumas pessoas das comunidades que assisto já me pedem “remédios caseiros” e até, como ocorre em uma dessas comunidades onde havia reatividade à prática não alopática, já vêem com melhores olhos o “natural”. Ali uma senhora já rasgou uma receita que fiz onde constava um xarope feito em casa porque queria um similar da farmácia. Observei que para alguns, a palavra caseiro, soa a tabaroismo, e “natural” remete a incivil, quando querem se igualar ao personagem televisivo da cidade grande. Por sorte trabalho em um posto de saúde vinculado à Estratégia de Saúde da Família, que busca ativamente a ação educacional junto à comunidade. Por isso me dá uma alegria enorme ver senhoras vetustas dizendo que aderiram ao meu sistema de cozinhar arroz integral (isso significa que estão comendo integral), ou como me disse D. Zira, que comprava por mês 1kg de caldo de galinha, mas que hoje não compra mais: “Voltei ao tempero de minha avó”.
Alimentação não é somente um bolo nutricional que ingerimos. É parte figadal da cultura. Além disso é um dos lugares onde manifestamos e recebemos carinho. Lembro de minha mãe, quando eu era pequeno. Não era muito de passar a mão pela cabeça, mas em compensação fazia de tudo para satisfazer aos gostos dos filhos. Comer é momento de confraternizações familiares e alegria com os amigos. E, muitas vezes, abraçamos ávidos o social em detrimento do nutricional. Vai daí que pode, efetivamente, ser mais fácil fazer uma revolução em um país (inda mais se ele está situado em alguma área susceptível ao discurso salvacionista) do que mudar a alimentação de uma pessoa. Porém parece-me que as pessoas já estão mais interessadas em entender e mudar. Parece que alguma coisa está acontecendo no mundo e o número de pessoas que quer funcionar a partir da consciência está aumentando. Alguém poderá negar isso, dadas as notícias que nos trazem os jornais e revistas. Acho que o pessimismo no caso tem suas razões, sendo porém razoável que o que experimento no dia a dia de trabalho, venha a ser mais fiel representação de um novo momento da humanidade. Como se dizia antes: “Quem viver, verá”. Quero estar entre os vivos!
Abraço vivo e vivencial de Aureo Augusto.