segunda-feira, 20 de setembro de 2010

SOLIDÃO E REBELDIA

Estava no metrô e meus olhos alcançaram uma jovem sentada mais adiante. Linda, mas com o olhar perdido, distante enquanto escutava música pelos fones de ouvido. Estes objetos tornaram-se presença constante em todos os lugares. Pensava que eram moda apenas no Vale do Capão, que chegou como uma novidade. Não, em tudo quanto é lugar as pessoas perdem-se das outras, isolam-se do mundo, ensimesmando-se através a escuta da música dos MP-3, MP-4 (na verdade não sei qual é o número agora) ou dos celulares. Então resolvi observar as outras pessoas do vagão e havia nelas a mesma coisa. Todas as pessoas olhavam para o vazio. Mesmo aquelas que não tinham fones nos ouvidos.
Portugal tem algo de triste. Tem uma coisa melancólica nos portugueses. Por que será?
Cybele pensou que poderia ser por ausência de lazer. As pessoas aqui trabalham mais do que seria de se esperar, e apenas para garantir a sobrevivência, para, enfim, pagar as contas. Existem parques públicos lindos, tem o zoológico, o Parque das Nações etc. E vai muita gente. Mas mesmo assim, há um clima de que estas coisas são para de vez em quando. Conheci um brasileiro que trabalha de garçom. Ele está contente de estar aqui, porque ganha bem. Mas trabalha em um local pela manhã e parte da tarde e em outro, de parte da tarde até à meia-noite. Desconhece domingo como tempo de descanso. Disse-me que tem aluga um apartamento de qualidade e tem certos confortos, mas a um alto custo.
Uma coisa também que noto é que tendem a ser ordeiros. Nada de mal nisso, mas um pouco de rebeldia sempre pode ser útil e necessário. Parece-me que aqui a rebeldia não é a tônica. Mesmo entre os jovens. Alguns deles se vestem modernamente, mas não vi nenhum punk, ou riponga. Há uma ternura neles, mas uma ternura melancólica.
Será que perderam a esperança? Quero dizer: Será que após tantas revoluções pelas quais passou a Europa, tantas guerras, ditaduras e rebeliões, eles sentem que o essencial não mudou e, portanto, qual o sentido de mais algum ato rebelde? Talvez todas as revoluções tenham esbarrado no fato simples de que somos nós os seres humanos que as realizamos e não mudamos nelas, embora nelas mudem aqueles que assumem o poder. Na verdade, os últimos movimentos de rebeldia configuram-se, inclusive assumidamente, como modas, apenas modas. Pode parecer que isso seja triste, mas não é. Isso é o indicador de que precisamos fazer outro tipo de revolução. A mudança não é mais lá fora apenas. Aquele que quer mudar o mundo deverá (pelo menos) tentar mudar a si.
Recebam um abraço melancólico em consonância com este admirável mundo novo.
Aureo Augusto

2 comentários:

  1. Dr. Áureo, vc é uma figura...rsrsrs.

    Eu penso que a Europa, como um todo, é melancólica, embora linda. Não tem a mistura das raças e talvez carreguem um carma imenso.

    Ontem eu assisti pela tv um programa sobre viagens e a bola da vez era a Toscana, na Itália.

    Eles filmaram em uma cidadezinha medieval bem típica da Toscana. O dia estava lindo, céu azul, cheio de pessoas, de turista. Tocava uma música italiana enquanto as imagens desfilavam pela minha tv.

    Devo confessar que quase chorei de tristeza. Que energia triste, melancólica. Como se o lugar guardasse naquelas horrorosas muralhas, muita dor, morte, desespero, tristeza. Fiquei até envergonhada por não está achando aquilo tudo lindo, maravilhoso, como muitos falam.

    Até que uma turista brasileira, uma mulher madura que fazia a sua primera vez na Europa, saiu com a seguinte pérola (pérola mesmo, no bom sentido):

    "aqui tudo é lindo, maravilhoso mas não troco pelo meu Brasil. Principalmente Serra Gaucha e a Chapada Diamantina" rsrsrsr

    Suspirei aliviada e claro, concordei na hora com ela.

    Que bom que vcs estão curtindo Portugal.

    Abraços

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  2. Querida,
    vc está certíssima. Alegria é essencial.
    Um beijo portucalesco,

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